imagem de um cérebro e suas conexões

O cérebro autista: lições aprendidas com o livro de Temple Grandin

O cérebro autista ainda é um grande mistério para nós, mas nesse texto trago alguns pontos incríveis que o Livro de Temple Grandin aborda e nos faz refletir sobre nossas crianças. 

Existem livros que lavam a alma da gente, ao tentar conciliar leitura que agregue valor em todas as áreas da vida e os que trazem conhecimento sobre o TEA cheguei ao livro de uma pessoa autista incrível: Temple Grandin.

Ela escreveu esse livro em 2013 com Richard Panek, chamado O Cérebro Autista.

É um livro que mergulha em diversas vertentes do TEA, trás muitos detalhes que nos ajudam a ter um novo olhar para o autismo e nossos filhos.

A primeira frase que me impactou: NÃO SE DEIXE LEVAR PELOS RÓTULOS!

Se todos somos diferentes, as diferenças que o autismo trás não precisam ser tratadas como limitadores e incapacitantes, como a escritora mesmo aborta em seu livro, há muitos pontos fortes para serem explorados também.

Ela ainda relata que todos somos indivíduos com uma série de hábitos, capacidades, preferências e limitações.

Ter um diagnóstico não deve servir para focar no que achamos que o individuo não pode fazer, precisamos focar nos pontos fortes e no que pode ser melhorado.

O alerta ainda se expande ao longo das páginas: devemos parar de pensar em apenas acomodar as deficiências dos nossos filhos, mas aprender a pensar e explorar seus interesses, suas habilidades e pontos fortes!

Nesse post vou trazer três ensinamentos que tirei dessa leitura e que eu recomendo para todos que vivem essa realidade do Transtorno do Espectro Autista.

livro aberto

1) O CÉREBRO AUTISTA E SUAS DIFERENÇAS

Na primeira parte do livro, Temple mostra informações sobre o cérebro, sua anatomia, divisões e funções.

Ao executar diversas vezes exames de RMN (ressonância magnética nuclear) para se ver por dentro, ela traz explicações que nos fazem refletir.

Em questões de anatomia o cérebro autista é praticamente igual ao típico, ou normal como costumamos dizer.

Existem variações? Sim, mas em geral estão dentro da normalidade também.

Apesar de anatomicamente semelhante ao de pessoas típicas, as divergências estão nas funções cerebrais.

O cérebro autista não é um cérebro lesado mas sim com um funcionamento diferente pois não se desenvolveram como deveriam.

Ao olhar para os genes, ou seja, a genética envolvia, temos as mesmas situações, sabemos que eles têm uma papel no autismo, mas qual gene ou quais ainda é uma incógnita. Cada investigação traz uma nova vertente.

Outro ponto importante é sobre a diferença que essas alterações na formação do cérebro e nos genes acarreta, não temos 2 indivíduos autistas iguais.

Dentro do espectro não temos como comparar um autista com outro.

Lição aprendida: O cérebro autista ainda é um mistério, ficar buscando causas e origens não vai mudar a realidade. É preciso acolher a situação e buscar ajuda para prover o desenvolvimento do autista, seja ainda bebê, criança pequena, adolescente ou já adulto.

2) IMPORTÂNCIA DOS SENTIDOS NO AUTISMO

Os escritores relatam que nossos sentidos definem a realidade para cada um de nós, porém no cérebro autista a interpretação da mesma informação sensorial pode ser recebida de modos diferentes.

Temple relata que é muito importante estarmos atentos à essas disfunções pois cerca de nove em dez pessoas com autismo apresentam alterações referente os sentidos.

Essas alterações podem ser apresentadas em 3 categorias:

  • Busca sensorial levando a comportamento distraído ou hiperfocado
  • Modulação sensorial (baixa ou alta responsividade) com sensibilidade motora e baixo tônus muscular
  • Modulação sensorial (baixa ou alta responsividade) com extrema sensibilidade gustativa/olfativa

No livro é explorado os tipos de alteração sensorial em cada sentido e como podemos identifica-los.

Não podemos ignorar os distúrbios sensoriais no TEA, uma criança que tem muitas crises precisa desse olhar para receber uma ajuda eficaz.

Seu sofrimento sensorial não pode ser confundido com birra e ser ignorado.

Já abordei esse tema aqui no BLOG, se quiser mais informações visite o artigo sobre integração sensorial.

Os autores reforçam que a hipersensibilidade sensorial pode ser debilitante para alguns autistas a ponto de impedir a participação em atividade familiares e na sua vida adulta.

Lição aprendida: Nunca julgue uma criança chorando, nem sempre é birra, se for uma crise considere as questões sensoriais para ajudar a criança a se organizar e se acalmar.

3) TIPOS DE APRENDIZADO, PONTOS FORTES, EDUCAÇÃO E TRABALHO

Temple é uma pensadora por imagens e por muito tempo ela pensou que todos os autistas também eram.

Até aprender que não era bem assim.

O cérebro autista é fascinante e traz esse aspecto comum do cérebro típico.

Além de pensadores por imagens, ela explica que existem os pensadores por palavras/fatos e por padrões e essa análise pode ser fundamental para a educação e até ofertas de emprego para as pessoas com autismo.

Se todos somos diferentes, devemos considerar que com o aprendizado também é assim.

O cérebro autista é um grande mistério mas também pode ser visto como um cérebro com um grande depósito de pontos forte.

Enxergar dessa forma a realizada não é tão fácil, mas precisamos estar atentos aos progressos e as conquistas (mesmo que pequenas) para conseguir pensar e futuro.

Pensar no futuro é um desafio após o diagnóstico mas é um processo possível como eu relatei no post sobre expectativas.

É difícil encontrar uma definição clara no livro desses tipos de pensadores, são muitos os relatos e exemplos, mas segue algumas observações extraídas da obra:

As crianças que pensam por imagens são as que se dedicam a atividades manuais, gostam de brincar com blocos, pintar, desenhar.

Pensadores por palavras podem recitar diálogos de um filme, lembrar de datas importantes da história do mundo e trazer dados estatísticos sobre esportes.

Os pensadores por padrão tem como característica a facilidade na matemática, eles captam a forma por trás da função.

Considerar essas diferenças nos faz ter expectativas sobre inclusão, adaptação e oferta de um melhor aprendizado e até de emprego.

Nas páginas finais do livro os autores relatam diversas atividades profissionais que se encaixam nos tipos de pensadores.

Finalizei o livro com muitas esperanças e expectativas, pois Temple se tornou uma referência no mundo por ser uma mulher autista a adotar práticas que revolucionaram a pecuária e também sua relação com o mundo, como apresenta a reportagem do site Campo Grande News.

Lição Aprendida: Como a mãe de Temple devemos ser os primeiros a acreditar no potencial dos nossos filhos autista, estar atentos aos pontos fortes e habilidades afim de proporcional a melhor forma de aprendizado para eles e possibilidades de autonomia no futuro.

4) CONCLUSÃO

Essa é uma obra extensa e intensa. Por ser escrita por uma pessoa que vive e viveu muitos dos nossos dramas ela teve um peso a mais para mim, em especial o foco em olhar os PONTOS FORTES das nossas crianças.

No livro também fica o reforço sobre a importância do diagnóstico precoce.

“Quanto mais jovem o individuo, mais cedo se pode intervir. Quanto mais cedo for a intervenção, maior o efeito potencial na trajetória da vida de uma pessoa autista.”

Para trazer mais informações sobre o funcionamento do cérebro autista trago um vídeo do canal NeuroSaber sobre esse tema.

Confira já!

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