menina comendo melancia

Seletividade Alimentar no Autismo

Angustia, desespero e medo são alguns dos sentimentos que as dificuldades na alimentação no autismo podem trazer para os pais, familiares e cuidadores em relação à saúde da criança. Nesse post quero apresentar informações sobre esses desafios que vão além da seletividade alimentar! 

Quando uma criança dentro do espectro autista não se alimenta de forma adequada ou realiza essa ação com muita dificuldade traz à tona o tema de seletividade alimentar.

Em dezembro de 2021 tive a oportunidade de fazer uma LIVE sobre esse tema no Insta do BLOG com a Terapeuta Operacional Francielle Paula Belgrowicz e descobri que essas dificuldades na alimentação no autismo vão muito além da seletividade alimentar.

A conversa foi incrivel e rendeu muito conteúdo:

1) Incidência de dificuldades na alimentação na infância

2) Composição da Alimentação

3) Quando as dificuldades na alimentação no autismo precisam de intervenções?

4) Tratamentos

Abaixo vou abordar cada um dos temas que a Fran explicou durante a LIVE.

brocolis e cenouras

1) Incidência de dificuldades na alimentação na infância

O primeiro ponto de atenção é que as dificuldades alimentares não são exclusividade das crianças com TEA, podendo estar presentes em muitas crianças, na seguinte proporção:

25% crianças com desenvolvimento típico;

35% pré-maturos ou que passaram por UTI neonatal, crianças com outras síndromes ou transtornos, que passam ou já passaram por internamentos e/ou cirurgias;

80% crianças dentro do transtorno do espectro autista

Essas estatísticas nos ajudam a perceber que as dificuldades que o autismo engloba vão além da socialização, da comunicação e padrões de comportamento restritivos.

Os fatores que podem contribuir para essa grande incidência de dificuldades de alimentação no autismo são os déficits na comunicação (relacionado aos componentes motores), padrões rígidos relacionados aos utensílios e apresentação da comida e também as questões sensoriais.

Experimentar o alimento na boca ajuda e faz parte do desenvolvimento infantil, se houver choro, desespero e/ou trauma, pode ser um indicativo que existem dificuldades a serem investigadas.

Além disso, o ambiente que está envolvido no momento pode interferir também na alimentação.

No Brasil muitos dos encontros familiares envolvem a refeição, entaão é preciso estar atento à quebra de rotina, rigidez envolvendo a relação da comida X local e estímulos diversos do ambiente.

2) Composição da Alimentação

Outra informação que merece destaque é sobre a importância da alimentação que vai muito além de saciar a fome e nos fortalecer.

São nove os itens envolvidos nessa função:

  • Aspectos Nutricionais para manutenção da saúde.
  • Aspectos Sociais (como o vínculo gerado na amamentação).
  • Emocional (lembranças, aversão relacionada a situações passadas).
  • Aspectos Motores do corpo (postura, saber usar os utensílios).
  • Sensorial (selecionar/rejeitar alimentos pela apresentação visual ou cheiros).
  • Cultura (tipo de alimentos, utilização de temperos, forma de comer).
  • Contexto (itens de festa de aniversário, pratos da ceia de natal, comida da casa da vó).
  • Comportamento (comer pipoca assistindo filmes, fazer maionese de batata aos domingos).
  • Genética (alergias alimentares, diabetes, doenças metabólicas).

Com tantas áreas envolvidas é possível entender por que as dificuldades na alimentação no autismo estão sempre presente nos questionamentos e dores das nossas famílias.

3) Quando as dificuldades na alimentação no autismo precisam de intervenções?

Quem nunca presenciou aquela criança que passa o dia sem comer, ou só come arroz, ou só feijão de uma deerminada cor, tem hora que só come se estiver na casa da vó ou com se uma pessoa específica oferecer.

As situações diferem, mas a angústia dos pais é semelhante, porém para diferenciar se é apenas uma fase ou se merece uma intervenção profissional, a TO Fran esclareceu que é uma dificuldade quando:

  • A criança apresenta um Déficit Nutricional (podendo ter impacto no crescimento, sono, entre outros itens do desenvolvimento).
  • Interfere na participação social (vai a uma festa e/ou evento e não come nada).
  • Não permite a rotina e lazer da família na hora da alimentação.
  • Não há diversificação de alimentos.

Dos itens que compõem as dificuldades na alimentação no autismo devemos ter em mente:

Seletividade Alimentar -> pode ser definida como ingestão seletiva (pouco mais de 30 itens) e estar relacionada a formatos, apresentação, itens industrializados (por quase sempre ter o mesmo sabor).

Restrição alimentar -> ingesão de poucos alimentos, no repertório pode ter menos de 20 itens.

Apetite limitado -> come muito pouco nas refeições e quase nada entre elas.

Medo de comer -> pode aparecer choro e pânico, pode estar vinculado há algum episódio traumático de afogamento, susto e/ou emocional ou até mesmo a compreensão de frases abstratas.

Foi reforçado que essa literatura é recente e ainda não existe um código CID para diagnosticar as crianças que apresentam essas dificuldades.  Não há consenso sobre todos os temas e os estudos abordam um ou outro tema e não todo o universo das dificuldades alimentares.

Porém acreditdo que com essas informações a gente já consegue observar o que realmente pode estar fora do comum e buscar ajuda.

A Fran ressalta ainda que essa ausência de pesquisas e literatura sobre o tema, dificulta o tratamento, a elaboração de cartilhas de orientação, desenvolvimento de politicas publica e até mesmo a inclusão do tema na formação de profissionais.

4) Tratamentos

Para ajudar nesses desafios é preciso lembrar que há um elemento comum na introdução de alimentos as nossas crianças, chamada Neofobia: dificuldade natural frente ao novo.

Essa dificuldade se apresenta quase sempre quando tentamos dar um item novo à criança e ela não aceita, podendo jogar fora diversas vezes por ser algo novo e ela ainda não estar acostumada com o gosto e aparência, por exemplo.

Na alimentação precisa-se em média de 8 a 12 vezes para que a criança, ao experimentar algo, aceite ou não e essa etapa faz parte do desenvolvimento.

Nessa etapa de introdução de novos alimentos é importante o estimulo sensorial, ou seja, permitir que a criança veja, cheire e toque os alimentos, antes de aceitar na boca.

crianças cozinhando

Porém ao perceber que os itens listados acima, referente às dificuldades na alimentação no autismo estão presentes é preciso agir.

O acompanhamento e tratamento ideal devem ser multidisciplinares podendo envolver os profissionais: Terapeuta Ocupacional, Psicóloga, Fonoaudióloga, Fisioterapeuta, Médico e Nutricionista, porém ter todos esses profissionais com especialização em TEA é algo muito difícil e que exige esforço das famílias para integrar todos.

Cada um desses profissionais vai atuar dentro de sua área e ao mesmo tempo deve interagir com os demais em especial envolvendo a família que em geral é quem está mais tempo com a criança e irá fazer a introdução alimentar

A intervenção precoce é sempre a melhor opção, não insistir “que cada criança tem seu tempo” nessas horas é muito importante, pois pode impactar na saúde dos pequenos.

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Confira o conteúdo integral dessa live no Insta do BLOG!  

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Veja também os nossos POSTs anteriores.

O cérebro autista: lições aprendidas com o livro de Temple Grandin

 

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