repetição da fala (ecolalia) autismo

Como a repetição da fala (ecolalia) pode estar presente no autismo e a importância de estar sempre alerta!

Nem toda alteração no desenvolvimento da comunicação estará dentro do Transtorno do Espectro Autista porém pode ser um indício que algo não está indo conforme o esperado.  Alterações como a repetição da fala (ecolalia) podem indicar desvios no desenvolvimento da fala e linguagem das crianças pequenas!

Confira na íntegra este conteúdo que contém dois vídeos de profissionais super especializados para te ajudar a estar sempre alerta!

O Desenvolvimento da Comunicação da Criança

repetição da fala (ecolalia) autismo

A Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFA) destaca que o principal componente da comunicação humana é a linguagem e  que ela é externalizada pelo falar, escutar, ler e escrever. Dessa forma o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem e da fala depende de condições neurobiológicas e ambientais apropriadas!

Os Transtornos de Linguagem não são características únicas do TEA, mas é de extrema importância que os pediatras encaminhem as crianças para um tratamento de estimulação da fala e linguagem ao observarem alterações no desenvolvimento do processo de comunicação da criança, conforme destaca a fonoaudióloga Marcia Maria Loss de Carvalho no livro Autismo: Perspectiva no dia a dia.

Ela ressalta que não se pode esperar até os 36 meses (três anos) para o desenvolvimento da comunicação, pois o não surgimento da comunicação oral na idade esperada pode ser um indicativo de alteração dessa habilidade, então é preciso estar sempre alerta ao desenvolvimento da linguagem (sistema verbal e não verbal pré-estabelecido que nos permite a realização da comunicação) e da fala (modo verbal da linguagem).

Confira o primeiro vídeo desse post do Dr. Paulo Liberasso para o canal Autistólogos do Youtube que exemplifica as informações sobre o atraso da fala, bem como a importância dos pais estarem atentos aos marcos importantes da fala nos primeiros anos de desenvolvimento.

Sinais de Alerta em relação à comunicação

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As crianças com autismo apresentam dificuldades na capacidade de se comunicar pela linguagem verbal e não verbal, sendo que é um dos critérios diagnósticos para o TEA, conforme está no DSM-V (déficit na comunicação e na interação social). Elas podem ter vocabulários ricos e serem capazes de falar sobre assuntos específicos com grande nível de detalhamento, porém muitos têm problemas com o significado e o ritmo das palavras e frases, o que afeta a capacidade das crianças com TEA de interagir com outras pessoas e com os da sua idade.

No livro Autismo: Perspectiva no dia a dia, especificamente no capítulo sobre intervenções da fonoaudiologia são listados diversos sinais de alertas em relação à fala e linguagem que podem ser observadas em crianças com TEA, trago aqui os principais:

  • Atraso de Fala;
  • Ausência de Fala;
  • Inversão pronominal (uso de “ele” ao invés de “eu”)
  • Rigidez de significados (dificuldade em compreender a linguagem figurativa, sentido de piadas, etc.);
  • Dificuldade nos jogos sociais, como o faz de conta;
  • Repetição da fala (Ecolalia).

Esses sinais não devem ser ignorados com a justificativa de que “cada criança tem seu tempo”, pois como já exposto, eles podem indicar atrasos de desenvolvimento de uma forma geral e não apenas características de autismo.

As alterações no desenvolvimento da fala precisam ser trabalhados em seções de fonoaudiologia que vão ajudar a criança a se comunicar de forma útil e funcional.  Dessa forma o fonoaudiólogo é o profissional que fará uma avaliação completa da capacidade de comunicação da criança e é quem vai elaborar o programa de tratamento apropriado.

Repetição da Fala (Ecolalia)

A repetição da fala (Ecolalia) é um distúrbio de desenvolvimento da comunicação que pode ser comum no processo de desenvolvimento da comunicação de uma criança, porém em crianças com TEA essa alteração pode permanecer ao longo dos anos se não houver intervenção adequada (terapias).

Compartilhando a nossa experiência com o atraso no desenvolvimento da comunicação do Emanuel, haviam vários sinais de alerta em nossos dias mas eu não percebia, então ele só iniciou o tratamento com a terapia de fonoaudiologia com quase quatro anos de idade.

No entanto um episódio muito marcante foi aos quatro anos e três meses, em uma seção avaliativa, que descrevo a seguir:

Era uma sala com diversos brinquedos, ele pegou todos os animais da caixa e fez um empilhamento, então soltava os animais para que caíssem no chão enquanto cantarola a frase “o que eu quelo mais é ser reiiii…”, ao terminar repetiu essa atividade por mais três vezes.

Olhando a cena isolada parecia engraçadinha, uma imitação de uma das cenas clássicas do filme O Rei Leão da Disney que na época o ele assistia sem parar. Mas considerando o contexto, um menino de quatro anos que só brincava dessa forma com aqueles animais, era uma situação crítica, além da repetição da frase várias vezes simulando um brincar.

Ao ficar repetindo essa fala estava caracterizado um tipo de ecolalia, ou seja, sua “fala” na verdade não comunicava nada, não tinha uma função pois ele estava apenas inserindo no contexto do seu brincar uma frase já gravada em sua mente.

Ele também não conseguia manter diálogos, muitas vezes a gente se questionou sobre deficiência auditiva, pois ao ser chamado ele não respondia, perguntava sobre o dia (ele já estava com quatro anos na época) na escolinha e não tinha uma resposta. Era bem difícil…

Algumas vezes ele repetia frases em casa como: “o que é isso?”, mas depois descobrimos ser ecolalia também, pois era repetição de frases que ele escutava no dia a dia da creche. Também havia a fala em terceira pessoa, escutávamos muito: “é do Emanuel”, “Emanuel qué ága”, “Emanuel qué calo (para o carrinho)”

Na creche não era diferente, pouca interação social e quase nenhuma comunicação verbal. Ele quase não respondia aos questionamentos das educadoras e muito menos aos coleguinhas da mesma idade.

Os três tipos de repetição da fala (ecolalia) são:

  • Imediata
  • Mediata / Tardia
  • Mitigada / Funcional

Para entender como a ecolalia pode aparecerna fala, assista ao vídeo da Dra. Maria Claudia Brito que explica e dá exemplos em seu canal do Youtube sobre esse distúrbio da fala.

Busque Ajuda, não espere!

Segundo o Instituto Nacional de Surdez e Outros Distúrbios da Comunicação (NIDCD) dos Estados Unidos para algumas crianças mais novas com autismo, melhorar as habilidades de fala e linguagem é uma meta realista de tratamento, desde que os pais estejam prestando atenção ao desenvolvimento da linguagem desde o início.

Os relatos que eu trouxe do Emanuel são para alertar, para que você não passe pelo que eu passei, pois eu o tratava como uma criança tímida e reservada, eu não percebia que aqueles episódios de dificuldade na fala e compreensão eram atrasos e alterações em sua comunicação e no seu desenvolvimento.

Apesar de o Emanuel ter iniciado as terapias com um fonoaudiólogo e hoje ter uma comunicação verbal funcional, acredito que se tivéssemos iniciado esse processo precocemente não teria lido relatos de uma criança que, aos três anos e meio, entrava mudo e saia calada da creche, não interagia e brincava muito pouco com seus amiguinhos de sala.

Resumindo: crianças pequenas, com idade próxima aos três anos de idade que não estão com o desenvolvimento da fala e linguagem dentro do esperado, conforme apresentado no vídeo do Dr. Paulo Liberasso, precisam ser encaminhadas para uma avaliação especializada. Ao observar qualquer sinal de alteração no desenvolvimento da fala da sua criança: atraso,  ausência, ecolalia, não compreensão de comandos, busque orientação com o pediatra, neuropediatra ou fonoaudiólogo.

Poder ver nossos filhos conversando e dialogando com seus pares ou interagindo com outra forma de linguagem é uma grande vitória!

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Referências:

Instituto Nacional de Surdez e Outros Distúrbios da Comunicação (NIDCD) dos Estados Unidos – https://www.nidcd.nih.gov/health/autism-spectrum-disorder-communication-problems-children

Site da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia – https://www.sbfa.org.br/portal2017/themes/2017/faqs/faq_linguagem.pdf

Livro Autismo: Perspectiva no dia a dia, editora Íthala, 2013.

 

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2 Comments

  1. Eu acredito que é um grande desafio pois a ecolalia pode representar uma forma de comunicação ou de manter contato social.
    Parabéns pelo blog.

    • Olá Anna Cristina. Hoje o Emanuel está com 9 anos e ainda apresenta ecolalia. E como você apontou, ele faz essas repetições para se comunicar, repete palavras ou frases pelo menos 3 vezes, até ter certeza que entendemos o que ele quis expressar. É sempre um desafio fazer ele interromper o ciclo.

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