A importância de compreender o que é estereotipia e a sua função reguladora no autismo!

Todos apresentamos algumas formas de estereotipias que normalmente são temporárias. Já a estereotipia apresentada no autismo pode persistir por toda a vida, causando diversos impactos na ordem motora e na fala!

O que é Estereotipia?

É comum encontrar a definição para a questão: o que é estereotipia como sendo um comportamento repetitivo sem função social. Porém eu acredito que para compreender profundamente o que é estereotipia e sua função precisamos ir além dessas declarações.

No CID10 encontramos que Estereotipia é o transtorno comportamental e emocional com início habitualmente durante a infância ou a adolescência e caracterizado por movimentos intencionais, repetitivos, estereotipados, sem finalidade (frequentemente ritmados), não associados a outro transtorno psiquiátrico ou neurológico identificado.

As estereotipias são comuns em portadores do TEA e apesar de ser associado a um comportamento sem função social, aprofundando as pesquisas identificamos que para a pessoa (seja criança, adolescente ou adulto) que realiza esse comportamento, elas normalmente expressam alguma necessidade ou sentimento e podem ter uma função reguladora.

Estereotipias também podem ser definidas como Stimming que é um comportamento auto estimulante conforme destaca o site do NHS do Reino Unido.

É importante ressaltar que todos nós apresentamos alguma forma de estereotipia, no caso de pessoas com desenvolvimento típico, elas podem ser temporárias e acabam sumindo ao passar dos anos, as mais comuns são: chupar o dedo, enrolar o cabelo com as mãos, bater os dedos das mãos e dos pés, chocalhar o tronco ou membros.

Esse tipo de estereotipia é conhecida como forma primária!

Já a estereotipia apresentada no autismo é conhecida como secundária ou patológica porque pode persistir por toda a vida.

Principais tipos de Estereotipias no autismo

o que é estereotipia

Uma vez entendido que as estereotipias tem relação direto com o comportamento vamos descobrir quais as principais formas de apresentação:

  • movimentos repetitivos das mãos (flapping)
  • balançar o tronco
  • pulos repetidos
  • andar na ponta dos pés
  • rigidez corporal
  • colocar as mãos sobre as orelhas
  • enfileirar objetos
  • uso repetitivo de um objeto
  • girar o próprio corpo
  • caminhar em círculos pelo ambiente
  • repetir palavras, frases ou sons (Ecolalia)
  • cheirar objetos

Quando mais graves, as estereotipias podem ter algum componente automutilador, como bater a cabeça, morder as mãos, morder os lábios ou outras partes do corpo, bater na própria face, colocar o dedo nos olhos, nessas situações pode ser necessário o suporte de um adulto para interromper esses movimentos, visando à segurança de todos.

É importante ressaltar que esses sinais isolados não caracterizam o autismo, conforme ressalta  Isabela Barros e Renata Fonte no artigo publicado na Revista Brasileira de Linguística Aplicada.

Para relembrar os critérios diagnósticos do Transtorno do Espectro Autista visite a página O que é autismo?  aqui no site!

Nossa vivência com as estereotipias

Antes de conhecer o autismo eu jamais tinha escutado sobre esse tema mas ela se fazia presente em nossos dias:

  • Intrigava-me em seu comportamento os momentos que ele parecia estar em outro mundo, de um momento para outro ele começava a correr em círculos e apesar da gente chamar várias vezes, não havia resposta.
  • Em outros momentos ele começava uma seção de pulos, como se estivesse em uma cama elástica.
  • Algumas rotinas também não podiam ser mudadas, como apenas eu poder dar a mamadeira quando estivesse presente, mesmo que durante o dia a vó ou o pai o fizessem sem problemas.
  • Quando ia brincar, ele não utilizava o faz de conta, dando voz e movimento aos brinquedos, também era comum, ao invés de pegar seus carrinhos e fazer uma corrida ou jogar para ver qual ia mais longe, ele os enfileirava ou fazia pilhas, colocando um brinquedo sobre o outro.

Confesso que muitas e muitas e muitas vezes, sem entender o que estava acontecendo, eu falava (ás vezes era no grito mesmo) já sem paciência: PARA EMANUEL!

Eu o segurava para interromper aqueles momentos de pulos ou corridas em círculos que eu não via sentido, e não rara às vezes, a situação piorava muito, levando ele a ter uma crise que podia durar horas.

Somente após o diagnóstico de autismo fui entender que aqueles comportamentos tinham um nome, era ESTEREOTIPIA.

Motivações e funções para a Estereotipia

Mas então o que faz o portador do TEA ter esses comportamentos e ações listadas até aqui? Se há uma função para a estereotipia, qual é a necessidade inserida nessas repetições?

Segundo o site da Sociedade Nacional dos Autistas do Reino Unido e o site NHS do mesmo país, as razões por trás do comportamento estereotipado podem ser:

  • diversão / busca por prazer
  • obter dados sensoriais (tátil, visual, entre outros)
  • ter pouca sensibilidade ao toque ou dor
  • uma tentativa de reduzir a entrada sensorial
  • ser hipersensível a coisas como luzes brilhantes ou ruídos altos
  • para lidar com o estresse e a ansiedade e bloquear a incerteza
  • ansiedade, especialmente quando as rotinas mudam repentinamente
  • não ser capaz de entender o que está acontecendo ao seu redor
  • estar doente ou com dor

Também é relatado no site ambitious about autism que os comportamentos repetitivos podem ser uma parte importante da vida de muitas crianças e jovens autistas, podem ser uma forma essencial de regular as emoções e proporcionar a alguém uma fonte de conforto ou prazer que lhe permite continuar o seu dia.

Recentemente perguntei para o Emanuel, agora com 9 anos, o motivo dos pulos ao ver cenas em desenhos (sim…eles ainda acontecem, bem como o caminhar em círculos) e ele me respondeu prontamente “por que eu estou feliz”!

Apesar de nem sempre estarmos dispostos e pacientes para esperar aquele momento passar, escutar ele me explicar à função daquela estereotipia (extravasar a sua alegria eufórica e também busca sensorial) me faz enxergar que estamos no caminho certo.

Para concluir esse tema, reforço novamente a importância de observar comportamentos e estar atendo aos sinais, como já destaquei no post sobre Ecolalia.

Se a estereotipia não causa nenhum mal a criança ou a quem está ao redor, apesar de parecer estranho aos nossos olhos e sem sentido (função) não devemos interromper de forma abrupta ou gritar com a criança para que ela pare. Não faríamos isso com um adulto…

Mas se o comportamento restringe as oportunidades de interação, seu aprendizado, se causa angústia ou desconforto, impacto na aprendizagem e estiver causando outras dificuldades ou for de alguma forma insegura, como apresentado na autoagressão, é necessário dar o suporte necessário para interromper ou modificar o comportamento.

Mas como pais e cuidadores muitas vezes não sabemos o COMO ajudar, como interromper adequadamente aquele comportamento ou até como preveni-lo!

Dessa forma a recomendação é buscar orientações e intervenções com os profissionais especializados, dependendo do tipo de estereotipia apresentada, que pode ser o fonoaudiólogo, psicólogo ou terapeuta ocupacional.

Deixo aqui mais um vídeo do Dr. Paulo Liberalesso, que foi postado justamente essa semana em que eu estava concluindo as pesquisas para esse post no seu canal do YouTube de forma que eu não podia deixar de trazer aqui para você essas informações direto de um especialista, que resume todo o conteúdo desse post.

Assista agora e deixe seu comentário! Se esse conteúdo foi de ajuda para você, compartilhe…

Referências :

Dissertação: Estereotipias motoras em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista: estudo de uma amostra –  Stéphanny Maria Rampazo http://tede.mackenzie.br/jspui/handle/tede/1644

Estereotipias motoras e linguagem: aspectos multimodais da negação no autismo, December 2016 – Revista Brasileira de Linguística Aplicada 16(4):745-763 – Acesso em 27/01/2021

https://www.researchgate.net/publication/312236665_Estereotipias_motoras_e_linguagem_aspectos_multimodais_da_negacao_no_autismo

https://www.autism.org.uk/advice-and-guidance/topics/behaviour/stimming/all-audiences

https://www.nhs.uk/conditions/autism/autism-and-everyday-life/help-with-behaviour/#:~:text=Common%20stimming%20behaviours%20include%3A,repeating%20words%2C%20phrases%20or%20sounds

https://www.ambitiousaboutautism.org.uk/information-about-autism/behaviour

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