disfunção de integração sensorial no autismo

Integração Sensorial no Autismo: compreender, reconhecer e agir!

A Disfunção de Integração Sensorial no autismo está presente em até 90% dos casos. Ignorar essa característica do TEA pode trazer sérios prejuízos para o desenvolvimento das nossas crianças.

Em nossa jornada com o TEA haviam situações e comportamentos que pareciam não ter respostas:

Eu ficava intrigada com o Emanuel, ele parecia não sentir dor ao bater a perna, não sentia a água quente do chuveiro e não entendia que para tomar banho precisava abrir o registro para a água sair.

Também parecia não ouvir, ele apresentava dificuldades em imitar e executar atividades simples do dia a dia.

Parecia que não aprendia algumas coisas nunca…

E sempre que era surpreendido com barulhos e choro de crianças menores sua reação de irritação e desregulação era instantânea.

Apesar das evoluções que ele estava apresentando com as terapias ABA, essas situações não mudavam.

Então através de uma avaliação na clínica foi indicado a Terapia de Integração Sensorial e muita coisa começou a ter sentido, a ter compreensão e a ter novos comportamentos e resultados.

Confira agora os tópicos que compõem esse post, pois o objetivo é ajudar você a compreender mais sobre a Integração Sensorial no autismo, reconhecer sinas da disfunção e agir quando for necessário. Ótima leitura!

  1. Nossos sentidos
  2. A integração sensorial
  3. Dificuldades com a integração sensorial
  4. Autismo e a Disfunção de Integração sensorial
  5. Terapia
  6. Vídeo resumo sobre a Integração Sensorial

Menino tentando pescar. Disfunção de integração sensorial no autismo

I. Nossos Sentidos

Após a inclusão do Emanuel na Terapia Ocupacional descobri que não temos apenas os 5 sentidos que sempre acreditei: auditivo, visual, tátil, olfativo e paladar (ou gustativo).

Para o correto funcionamento do nosso corpo contamos também com mais 2 sentidos, que são os sistemas vestibular e proprioceptivo.

Para entender de forma resumida a função desses sentidos desconhecidos para a maior parte de nós, separei as descrições encontradas no site sete sentidos (em tradução livre) e do site da clínica dos sentidos:

Sistema Vestibular Sistema Proprioceptivo
Esse sistema detecta informações importantes como balanço, gravidade, posição do corpo e distância. Sua integridade permite ao indivíduo mover-se com segurança.

Formado por um conjunto de órgãos do ouvido interno o sistema vestibular mede aceleração, movimentos corporais e posição da cabeça.

Exemplos do sistema vestibular na prática incluem saber que você está se movendo quando está no elevador, saber se você está deitado ou sentado e ser capaz de caminhar ao longo de uma trave de equilíbrio.

É o sentido da posição relativa das partes vizinhas do corpo e da força de esforço empregada no movimento. Permite a manutenção do equilíbrio e a realização de diversas atividades da vida diária.

Através dele percebemos a localização, posição e orientação do corpo no espaço, reconhecer a força exercida pelos músculos e o movimento das articulações sem utilizar a visão, sendo capaz de planejar nossos movimentos.

Exemplos de nossa propriocepção na prática incluem ser capaz de bater palmas com os olhos fechados, escrever com um lápis e aplicar com a pressão correta, e navegar por um espaço estreito.

II. A Integração Sensorial

Considerando então os setes sentidos, imaginamos o esforço que nosso corpo realiza para que possamos “dar conta” das rotinas diárias.

Chamamos essa organização dos sentidos de Integração Sensorial (IS).

Segundo o site Integração Sensorial Brasil, a IS é a organização das sensações para uso no dia-dia, para que possamos usar nosso corpo efetivamente no meio ambiente.

No desenvolvimento infantil, as habilidades e sensações são desenvolvidas através do brincar.

Quando essas informações estão bem organizadas, podemos utilizar para nossa percepção, comportamento e aprendizado.

A integração sensorial providencia as informações necessárias para aparelhar o corpo e a mente, uma vez que une todas as nossas sensações e dá sentido a elas.

Nos anos 60, Anna Jean Ayres definiu a IS como “o processo neurológico que organiza sensação do nosso próprio corpo e do ambiente e este processo faz possível usar o corpo efetivamente dentro do ambiente”.

Ayres foi uma norte americana que introduziu esse conceito no mundo da terapia ocupacional.

Segundo Ayres a aprendizagem é dependente da nossa habilidade de tomar a informação sensorial vinda do ambiente e do movimento do nosso corpo.

É necessário processar e integrar essas entradas sensoriais dentro do sistema nervoso central (SNC) e usar essa informação sensorial para planejar e organizar o comportamento.

III. Dificuldades com a Integração Sensorial

disfunção de integração sensorial

Quando essa integração dos sentidos não acontece como o esperado, ou seja, quando temos ausências na relação dos sentidos temos então a Disfunção de Integração Sensorial (DIS), nome dado por Ayres.

A DIS é uma desordem na qual a informação sensorial não é integrada ou organizada adequadamente no cérebro.

Pode ocorrer vários graus de problemas no desenvolvimento, no processamento da informação, no comportamento e na aprendizagem tanto motora quanto conceitual.

Algumas crianças têm dificuldade em receber e processar as sensações que chegam. 

Com base nisso é importante observar os sinais da existência de alguma alteração sensorial.

Abaixo listei os principais sinais, citados no site Pathways, que indicam a presença da Disfunção de Integração Sensorial:

  • Excessivamente sensível ou pouco reativo ao toque, ao movimento, imagens ou sons;
  • Facilmente distraído; 
  • Pouca atenção às tarefas;
  • Atrasos na fala;
  • Habilidades motoras ou desempenho acadêmico com dificuldades;
  • Problemas de coordenação, parece desajeitado ou estranho;
  • Fraca consciência corporal;
  • Dificuldade em aprender novas tarefas ou descobrir como brincar com brinquedos desconhecidos;
  • Dificuldade com tarefas que requerem o uso de ambas as mãos ao mesmo tempo;
  • Parece estar desorganizado na maioria das vezes;
  • Dificuldade com transições entre atividades ou ambientes;
  • Habilidades sociais imaturas;
  • Impulsividade ou falta de autocontrole;
  • Dificuldade em se acalmar uma vez que “acabou”.

Quando a Disfunção da Integração Sensorial está presente, o desenvolvimento da práxis (capacidade de idealizar, planejar e executar as ações) também pode estar comprometido.

Então surgem dificuldades na prática da realização das atividades da vida diária como: alimentação, vestuário, higiene pessoal, brincar, atividades escolares, participação social entre outras.

IV. Autismo e a Disfunção de Integração Sensorial

No livro Autismo Perspectivas do dia a dia, a Dra. Claudia Omairi ressalta que a aprendizagem lenta e o comportamento não adequado em crianças com autismo geralmente podem ser causados pelo pobre processamento sensorial dentro do cérebro da criança.

Claudia ressalta no livro que a essa disfunção em indivíduos com TEA pode ser de 80% a 90%.

Segundo o artigo da revista Conhecimento Online, produzido por Nathalia Rodrigues Cardoso e Marília Bazan Blanco (p. 108-125 | jan./abr. 2019), em crianças autistas, a disfunção na integração sensorial pode ser observado em alguns comportamentos característicos do TEA:

  • a busca contínua por movimento;
  • prazer e/ou produção de ruídos estranhos;
  • preferência por gostos e aromas específicos;
  • dificuldade em sustentar a atenção na presença de ruído no ambiente;
  • padrões de déficits motores, que influenciam em atividades como escrever e colorir.

Elas ressaltam que as crianças autistas podem, em alguns momentos, não responder a estímulos auditivos, podendo, inclusive, ser confundido com surdez.

Em outros momentos reagem de forma desproporcional a um pequeno ruído, evidenciando que as crianças com TEA não sentem de forma diferente, mas interpretam diferentemente as sensações que recebem.

V. Terapia para Disfunção de Integração Sensorial no Autismo

Como citado no post anterior, as terapias são fundamentais no processo de desenvolvimento das crianças diagnosticadas dentro do Transtorno do Espectro Autista.

Quando existe a presença da Disfunção de Integração Sensorial há alguns prejuízos que podem comprometer o desenvolvimento como um todo.

Ayres classificou em 4 itens esses problemas que a DIS pode trazer, como seria muito extenso detalhar todos nesse post, trago breves exemplos que estão no livro Autismo: Perspectivas do Dia a Dia.

  • Problemas de Modulação Sensorial: dificuldade na capacidade de se regular ao ambiente, percebem rapidamente as sensações e respondem em estado defensivo, isolamento ou evita a sensação;
  • Problemas de Discriminação e Percepção Sensorial: crianças que tem dificuldade no registro da sensação, podendo parecer alheia a dor, ao toque, ao frio e calor. Também há aqueles que buscam o estímulo sensorial;
  • Problemas relacionados às Funções Proprioceptivas e Vestibulares: apresenta-se no equilíbrio pobre, baixo tônus muscular, crianças que se debruçam ou escorregam na carteira;
  • Problemas Relacionadas à Praxia: dificuldade em planejar uma atividade e executar utilizando o corpo.

Para ajudar com todas essas situações entra em cena o Terapeuta Ocupacional com Formação em Integração Sensorial de Ayres®.

No site Integração Sensorial Brasil, é destacado como objetivos gerais do terapeuta ocupacional:

  • promoção de experiências sensoriais;
  • auxílio à criança na inibição e/ou modulação da informação sensorial;
  • organizar a criança no processamento de resposta mais adequadas aos estímulos sensoriais;
  • promover oportunidades para o desenvolvimento de respostas adaptativas cada vez mais complexas.

Os procedimentos de Integração Sensorial são delineados para alcançar as funções sensoriais e motoras.

No artigo de Annio Posar e Paola Visconti para o Jornal de Pediatria eles explicam como deve ser esse procedimento:

“intervenções clínicas que usam atividades lúdicas e interações sensoriais aprimoradas para melhorar as respostas adaptativas a experiências sensoriais.

Por meio de atividades motoras brutas que ativam os sistemas vestibulares e somatossensoriais, essas intervenções visam a melhorar a capacidade de integrar informações sensoriais.

Levam a criança a adotar comportamentos mais organizados e adaptativos, inclusive atenção conjunta melhorada, habilidades sociais, planejamento motor e habilidades perceptuais.

Nesse contexto, a terapeuta escolhe um ‘‘desafio justo’’ (ou seja, uma atividade que seja somente um pouco acima do que a criança atualmente consegue fazer sem dificuldade) das habilidades emergentes da criança e reforça suas respostas adaptativas ao desafio.”

Os autores reforçam que entender quais entradas sensoriais específicas causam desconforto em determinado indivíduo é o pré-requisito para reorganizar o ambiente em que ele vive e sua rotina diária para reduzir o máximo possível esse desconforto.

Para iniciar essa terapia a criança precisa passar por uma avaliação.

Segundo o site IS Brasil o Sensory Integration and Praxis Test – SIPT consiste em uma avaliação padronizada da abordagem de Integração Sensorial de Ayres que reúne 17 testes fundamentados teoricamente por pesquisas científicas desde os anos 60.

O site destaca que esta avaliação é produto de mais de 30 anos de investigações e prática clínica da terapeuta ocupacional Jean Ayres sobre a Integração Sensorial e as Disfunções do Processamento Sensorial.

Se a sua criança apresenta algum desses comportamentos converse com o médico que a acompanha e solicite um encaminhamento para avaliação.

VI. Vídeo resumo sobre a Integração Sensorial

Separei esse vídeo do canal do YouTube Crefito-3 que reforça o tema tratado nesse post e a importância da criança receber a intervenção adequada.

Faça a diferença você também!

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Referências:

http://www.7senses.org.au/what-are-the-7-senses/

https://www.clinicasentidos.com.br/paginas-textuais/os-sentidos

https://pathways.org/topics-of-development/sensory/

https://www.integracaosensorialbrasil.com.br/integracao-sensorial

https://periodicos.feevale.br/seer/index.php/revistaconhecimentoonline/article/view/1547/2273

https://www.escavador.com/sobre/1303919/claudia-omairi

Posar A, Visconti P. Sensory abnormalities in children with autism spectrum disorder. J Pediatr (Rio J). 2018;94:342—50. – https://doi.org/10.1016/j.jped.2017.08.008

Souza, Renata Ferreira de. e Nunes, Débora Regina de Paula. Transtornos do processamento sensorial no autismo: algumas considerações. Revista Educação Especial | v. 32 | 2019 – Santa Maria. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial

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